sábado, novembro 09, 2002

Por acreditar plenamente na força do palavrão como reforço e ênfase para nossa disponibilidade lingüística diária, reproduzo o artigo abaixo.
De autoria do Tio da Limpeza do banheiro feminino é uma peça que recomendo, sem hipocrisias ou desnecessários pudores, para contemplação e deleite de quem o ler. Sirvam-se!!!

O DIREITO AO FODA-SE


Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e
criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzam com a
maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.
É o Povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar
que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a "vulgarização" do
idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos
escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.

"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz idéia de maior quantidade
do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão
matemática, física. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente
pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto dela pra caralho,
entende?

No gênero do "Pra caralho", mas no caso expressando a mais absoluta negação
está o famoso e crescentemente utilizado "Nem fodendo!". Que nem o "Não, não
e não!" e nem tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não,
absolutamente não!" substituem. O "Nem fodendo" é irretorquível, liquida o
assunto. Te libera , com a consciência e o ego tranqüilos, para outras
atividades de maior interesse em sua vida.

Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar
no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo
"Huguinho, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se
manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você
fecha os olhos e volta a curtir o novo CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde
nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo
escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar
que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional.

Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra
nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O
"porra nenhuma", como vocês vêem, nos provê sensações de incrível bem estar
interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um
"Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim,
cadenciadamente, sílaba por sílaba...Diante de uma notícia irritante
qualquer um Puta-que-o-pariu! dito assim te coloca outra vez em seu
eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a
atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou te safar de maiores dores
de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e
reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem
que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do
suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:

"Chega! Quer saber mesmo de uma coisa? Vai tomar no olho do seu cu! ".
Pronto,você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoe a
camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um
delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

Seria tremendamente injusto, em que pesem ainda inexplicáveis e
preconceituosas resistências à sua palavra-raiz, não registrar aqui a
expressão de maior poder de definição do PV (Português Vulgar):
"Embucetou!". E sua derivação mais avassaladora ainda:
"Embucetou de vez!".

Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação
que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão,
inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial
contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como o comentário de um vizinho para sua esposa ao sacar que no auge da violenta briga do casal da residência ao lado, chegam de súbito a amante, o filho espúrio e o cunhado bêbado com o resultado do
exame de DNA: "Fecha a porta que embucetou de vez!".

O nivel de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de
"foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do"foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas.
Me liberta.". Não quer sair comigo? Então foda-se!.".
"Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!"

O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na constituição brasileira.
LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE E FODA-SE!!!



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