sexta-feira, fevereiro 04, 2005

UM MOMENTO MÁGICO

Ontem cumprimos a vontade da nossa mãe, de ter suas cinzas espalhadas no mar de Ipanema. Mais propriamente, no Arpoador.
Numa tarde linda, de um calorzão carioca do tipo que ela adorava, levamos suas cinzas, que acomodamos lindamente em uma pequena cestinha de vime, com flores e uma vela em forma de rosa.
Procuramos um lugar calmo, numa prainha que tem ao lado do Arpoador, onde não havia quase ninguém (apenas duas moças jogavam frescobol num dos lados), descobrimos um cantinho e fomos colocar a oferenda, aproveitando o dia de Iemanjá.

O mar estava quase calmo, e descobrimos um espaço, entre três pedras, onde havia uma pequena quantidade de areia. Ali, pensamos nós, poderemos deixar a cestinha, com as cinzas e as flores, que o mar irá se encarregar, aos poucos, de dissipar as cinzas, desmanchar as flores e levar a cestinha.

Isso pensado, entramos no mar, com água na altura das canelas. Preparei-me para depositar a cestinha, abaixei-me, coloquei a cestinha e só tive tempo de ouvir meu irmão me avisar, quase aos berros:
“Olha a onda!”

Só consegui erguer-me, rapidamente, levar um banho até pouco acima da cintura e ver, como num passe de mágica, pura mágica, a cestinha sendo arrastada pelas águas, as flores, algumas ainda inteiras, outras se despetalando, também levadas pelo mar, e as cinzas desaparecerem, certamente, tragadas pela força da onda. Uma flor, mansamente, no refluxo da maré, ainda voltou até perto de onde estávamos, e seguiu o mesmo destino das outras, mar a dentro. Quedamo-nos, os três, estatelados, estarrecidos!

Passados os poucos instantes de pasmo, só uma coisa ocorreu a nós três: alguma força, ou algumas, reuniram-se e trataram de cumprir as vontades da Marita e de Iemanjá. Algo, fora do nosso controle, do nosso entendimento e até da nossa crença, a princípio, ocorrera. Pura magia, puro encantamento!

A mesma maré que tão tranqüila e previsível estava, antes de colocarmos a oferenda, voltou a acalmar-se. Ainda ficamos vendo, durante alguns minutos, se alguma onda maior voltava a aparecer. Cinco, seis minutos, mar calmo. Apenas leves movimentos do mar.
Fomos embora, certos de que acontecera alguma coisa, dessas que a gente não consegue explicar, apenas vivenciar.

Conversando depois, comendo um milho num banquinho do Arpoador, tivemos a certeza de que aquela verdadeira festa de que participaramos, era a cara da nossa mãe. E mais, na certa ela esteve presente naquela surpresa que nos fora reservada.

Sobre o acontecimento, recebi do meu irmão e da minha cunhada, os relatos que se seguem:

“02/fevereiro/2005 – quarta-feira – 16:35 h

É meu irmão...
Há muito tempo não íamos à praia junto, nos dois, e muito menos com a nossa mãe.
Fomos, ou pelo menos eu fui, para satisfazer um desejo da velha, mas sem acreditar ser possível que ela visse a nossa homenagem.

De qualquer forma pensei, se for possível ela dar uma olhada vai ficar contente.

Fiz pouco da “velha dama indigna”.
Ela com certeza gostou da homenagem e resolveu participar dando um banho nos dois filhos que estavam cheio de dedos para presentear a rainha do mar com o último mergulho de sua filha Marita.. Tenho certeza que ela ficou contente e se despediu alegremente da gente.
Só fiquei com uma dúvida. Pelo banho que levamos, será que não foi idéia do velho Zadyr, que teria resolvido também participar da homenagem?

Mas que o momento foi mágico, foi. Não tenho a menor dúvida.

Para você, meu irmão um abração e para nossa mãe um até logo, até um dia.

Marco Antonio”

“02/fevereiro/2005 – quarta-feira – 16:35 h

É uma tarde Luminosa, na Ipanema de uma vida inteira.
Pedra do Arpoador... Mar de Mar..ita, como dizia e amava.
Descalços, na areia, caminham, dois meninos, levando a cestinha preciosa, toda enfeitada
com crisântemos brancos, chuvas de prata e a Deusa Mãe Marita, amada, presente, prestes a seguir novos caminhos naquelas águas do Mar...
São filhos, irmãos, unidos para o momento maior do Até logo... Até um dia...

* “Tá tudo aceso!! Tá tudo assim!! Tão Claro!! Tá tudo brilhando!! Tudo Ligado!!
Iluminando do Arpoador a São Conrado.
Tudo plugado...Tudo ardendo.... Tá tudo assim... Queimando feito salva de fogos!!!
Tá tudo assim....
Querendo colo... um berço, um braço quente, uma voz que cante baixo...”

O Mar... a Mãe... Marita...

Edna
Rio, 03 de fevereiro/2005

* Âmbar – Adriana Calcanhoto”

MaritaNovWeb.jpg

OBRIGADO, MÃE!

domingo, janeiro 30, 2005

JÁ-JÁ...DE CÔCO

Sou fã do Verissimo. Quase de carteirinha. Leio sempre as suas colunas e me divirto muito com as que tratam de assuntos das “antigas”.

Nesse domingo ele tocou num assunto que sempre invoco, com aquela carga de gozação que me é peculiar: os nomes dos consagrados picolés da Kibon, que conheço desde os seus nascimentos.

Leiam o artigo, é pequeno e leve.

A seguir, sem qualquer tentativa de discussão, faço minhas, leves, observações.

Já-já

A primeira vez que vi o Rio de Janeiro foi literalmente de passagem. Estávamos indo para os Estados Unidos e dormimos uma noite no Rio, na casa do meu padrinho Ernani Fornari. Naquele tempo, Porto Alegre a Miami de avião levava quatro dias. Depois da parada no Rio voaríamos para Recife, no dia seguinte para Trinidad, no Caribe, finalmente, no quarto dia, chegaríamos a Miami. Não, não era o 14-Bis. Era um Douglas de dois motores, se tanto. Da noite passada no Rio lembro vagamente de uma caminhada até a beira da Lagoa. Da viagem de avião lembro, acima de tudo, de vomitar muito.

Anos mais tarde fomos a Caxambu, fazer uma “estação de águas”. Curioso, escrevendo isto me senti como um aristocrata russo, Nabokov contando as idas da sua família de São Petersburgo a Biarritz no verão, para os banhos. Evocando uma era desaparecida através da gaze desbotada da memória, para usar uma frase nabokoviana. Mas, que eu saiba, as pessoas ainda fazem “estação de águas” em Caxambu. E nós não tínhamos nada de aristocratas russos antes da revolução, muito menos os recursos. Se a gaze desbotada não me engana, no entanto, devíamos estar bem de vida naquele ano — muito longe da época que minha mãe descrevia como a dos móveis escandinavos, caixas de bacalhau norueguês transformadas em mesinhas e estantes para completar a decoração da casa. Porque além de ir tomar água em Caxambu, na volta ficamos alguns dias no Hotel Luxor, de Copacabana. De frente para o mar!

As delícias do Rio. O cinema Metro (com ar condicionado!) O cheiro de maresia e asfalto da Avenida Atlântica, onde passavam baratinhas conversíveis de capota arriada. Tenho até a lembrança de estar na boate Vogue — não sei como, pois tinha 12 anos na ocasião. Mas o que eu queria dizer que entre as delícias famosas da época estavam os sorvetes Kibon, Eski-bon e Já-já, que só existiam no Rio. E que o Já-já era um picolé de frutas, ou de mais de uma fruta. Tenho a nítida memória de chupar Já-jás de várias cores e vários sabores. Mas me asseguram que o Já-já era exclusivamente de coco. Que nunca existiu Já-já de outra fruta. Que eu estou maluco.

O Já-já sortido é uma das minhas lembranças mais fortes. Se ele nunca existiu, isso significa que todas as minhas outras lembranças podem ser alucinações. Caxambu nunca houve, o próprio Rio da minha memória é um delírio e eu provavelmente sou mineiro e me chamo Elvásio. Preciso que alguém me diga que eu estou certo. Pelo menos sobre o Já-já!”


Minhas observações:
-Já-Já, querido Veríssimo, só de côco;
-De outros sabores, se tanto, existia o Ton-Bon ( isso mesmo, com esse nomezinho que o tempo conseguiu expurgar e que o corretor ortográfico do Windows teima em corrigir para Ton-Bom);
-Caxambu, continua a existir. Perdeu um pouco do velho encanto, mas está lá;
-Aquele Rio, dos seus delírios, tenta resistir ao novo Rio dos pesadelos;
-Elvásio, não é um nome interessante, embora ser mineiro não seja desdouro algum. Pode manter o LF Veríssimo.

ATÉ HOJE, GOSTO MUITO DO JÁ-JÁ; DE CÔCO!

ps: Chica-Bon, Eski-Bon, Já-Já e Ton-Bon, o quarteto de sorvetes dos meus tempos idos.