sexta-feira, outubro 25, 2002

TEVE DE TUDO!!!

Voto No Ar

Arnaldo Bloch (O Globo – 25/10/02)

A imagem, a rua e o amor

Está chegando ao fim a vigência excepcional dos poderes da Gratuilândia em nossos lares e em nossas vidas. Hoje será a despedida e, depois, os últimos cartuchos, no debate da Globo, cujo impacto dialético Lula tentou novamente diluir no programa de ontem, com mais uma daquelas simulações marotas. Nesses dois meses, viu-se, na TV, uma campanha incrível. No primeiro turno, a imagem inaugural, a impactar o país, foi a de Garotinho ladeado por Getúlio e JK, como se herdeiro fosse de uma tradição de grande estadismo. A ascensão e queda de Ciro, marcada pelo fenômeno do ouvinte burro (sic) e pelo sacrifício de Patrícia Pillar — foi o clímax. O triplo azul do trabalho trabalho trabalho e a onda Gugu-KLB; a Carteira de Itu e a voz de Nana suplantaram a sedução personalista de Ciro, caído em desgraça. FH, depois de arrancar o OK de todos ao FMI (assunto que jamais voltou à campanha na TV) apareceu uma vez. E nunca mais. No debate da Record, os candidatos transformaram-se em bólides humanas. Bóris Casoy perdeu completamente as estribeiras, e Lula uniu-se a Ciro e Garoto para aplacar o ânimo da nação tucana. Enquanto isso, espalhavam-se pelas telas as imagens de Lula arrancando urros e hurras na bolsa enquanto o mercado, na prática, era o samba-do-crioulo-doido de sempre. Paralelamente, o plebiscito da Alca, alicerçado pelas candidaturas do PSTU e do PCO, fazia tremer de tédio as bases do país-TV e, de quebra, levava uma solene banana do ex-irmão Lula. No outro extremo da escala partidária, Enéas, desta vez ausente da disputa presidencial, captava o seu carnudo quinhão no sombrio castelo de sua bizarria não-propositiva. Na seara estadual, as mulheres do Rio, ladeadas pelo trêmulo e tristonho Jorge Roberto Silveira, apresentavam suas credenciais, num jogo que, desde o início, parecia destinado a homologar o novo império populista fluminense, representado pela voz monocórdica, pelo discurso decoradinho, pelo cabelo alisado e pelo tônus triunfalista de Rosinha. Como se não bastasse, Benedita, Solange e Jorge (Aspásia à parte) gastaram seu tempo na TV devorando-se, em vez de unir-se no sentido de desestabilizar o vôo empinadinho de Rosita Garotón. Até que veio o episódio de 30 de setembro, quando Cesar Maia e Solange, então convertidos numa personalidade una e intercambiável, tentaram sua última cartada televisiva para, na esteira do pânico, mobilizar o teleleitor, mas acabaram esbarrando na ação razoável de Benedita à frente do governo. Bené, que já capitalizara a prisão de Elias Maluco (segundo Jorge Roberto, uma espertíssima armação das forças situacionistas, com a participação do bandido), acabou colhendo alguns louros por ter controlado a situação, mas, como ela mesma disse, com agudo senso de observação, “faltou voto”. O Rio, que vivenciara o elitista movimento “Rosinha Não” — e que, majoritariamente lulista, constatara o advento do segundo turno federal — teve o seu domingo à noite mais vazio da história democrática. A ponto de, à uma da manhã, o Jobi ter um único freqüentador, flagrado tomando... suco de laranja! Dante não faria melhor. Serra, na TV, comemorava a passagem à etapa seguinte, e prometia que tudo começaria do zero. Não foi bem assim: no primeiro programa, Lula, num rocambolesco espetáculo televisivo, apresentava seus aliados em ritmo de Vila Sésamo: na condição de bonecos mexendo as mãozinhas e dizendo “vem”, Ciro e Garotinho trouxeram mais um bolão de votos. Serra, por sua vez, iniciou a sua intensiva bateria de ataques, e lançou sua carta mais poderosa: Regina Tenho Medo Duarte. Ela manifestou seu medo e expôs o remanescente tecido patrulhento petista. Alimentou, na campanha de Serra, a expressão do temor a uma ditadura ABC, adicionada a um futuro que combinaria hiperinflação, insegurança e incompetência. A campanha do medo teve reforço de Carlos Vereza e de Beatriz Odete Roitman Segall e, do outro lado, Paloma Duarte, vestindo a fantasia da indignação e da ofensa do bom coração atingido pelo fel do ódio. Foi tudo muito interessante, mas nada mudou. Nos últimos dias, o PT vem desfilando seus clipes. Ontem, mostrou a tarde dos artistas no Canecão, com imagens de Gil dizendo que é hora da emoção; e de Leonardo Boff ensinando que governar não é um ato administrativo: é ato de amor. Mais um desafio para o futuro presidente. No último filme de Godard, o protagonista diz que o Estado é uma entidade incapaz de amar o indivíduo. Verdade ou não, resta-nos, na imagem da TV ou na vida que aparece na rua, amar, soberanos, o Brasil livre. Venha quem vier.

VOTAR NESSES CARAS???EU HEIN!!!

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