domingo, janeiro 30, 2005

JÁ-JÁ...DE CÔCO

Sou fã do Verissimo. Quase de carteirinha. Leio sempre as suas colunas e me divirto muito com as que tratam de assuntos das “antigas”.

Nesse domingo ele tocou num assunto que sempre invoco, com aquela carga de gozação que me é peculiar: os nomes dos consagrados picolés da Kibon, que conheço desde os seus nascimentos.

Leiam o artigo, é pequeno e leve.

A seguir, sem qualquer tentativa de discussão, faço minhas, leves, observações.

Já-já

A primeira vez que vi o Rio de Janeiro foi literalmente de passagem. Estávamos indo para os Estados Unidos e dormimos uma noite no Rio, na casa do meu padrinho Ernani Fornari. Naquele tempo, Porto Alegre a Miami de avião levava quatro dias. Depois da parada no Rio voaríamos para Recife, no dia seguinte para Trinidad, no Caribe, finalmente, no quarto dia, chegaríamos a Miami. Não, não era o 14-Bis. Era um Douglas de dois motores, se tanto. Da noite passada no Rio lembro vagamente de uma caminhada até a beira da Lagoa. Da viagem de avião lembro, acima de tudo, de vomitar muito.

Anos mais tarde fomos a Caxambu, fazer uma “estação de águas”. Curioso, escrevendo isto me senti como um aristocrata russo, Nabokov contando as idas da sua família de São Petersburgo a Biarritz no verão, para os banhos. Evocando uma era desaparecida através da gaze desbotada da memória, para usar uma frase nabokoviana. Mas, que eu saiba, as pessoas ainda fazem “estação de águas” em Caxambu. E nós não tínhamos nada de aristocratas russos antes da revolução, muito menos os recursos. Se a gaze desbotada não me engana, no entanto, devíamos estar bem de vida naquele ano — muito longe da época que minha mãe descrevia como a dos móveis escandinavos, caixas de bacalhau norueguês transformadas em mesinhas e estantes para completar a decoração da casa. Porque além de ir tomar água em Caxambu, na volta ficamos alguns dias no Hotel Luxor, de Copacabana. De frente para o mar!

As delícias do Rio. O cinema Metro (com ar condicionado!) O cheiro de maresia e asfalto da Avenida Atlântica, onde passavam baratinhas conversíveis de capota arriada. Tenho até a lembrança de estar na boate Vogue — não sei como, pois tinha 12 anos na ocasião. Mas o que eu queria dizer que entre as delícias famosas da época estavam os sorvetes Kibon, Eski-bon e Já-já, que só existiam no Rio. E que o Já-já era um picolé de frutas, ou de mais de uma fruta. Tenho a nítida memória de chupar Já-jás de várias cores e vários sabores. Mas me asseguram que o Já-já era exclusivamente de coco. Que nunca existiu Já-já de outra fruta. Que eu estou maluco.

O Já-já sortido é uma das minhas lembranças mais fortes. Se ele nunca existiu, isso significa que todas as minhas outras lembranças podem ser alucinações. Caxambu nunca houve, o próprio Rio da minha memória é um delírio e eu provavelmente sou mineiro e me chamo Elvásio. Preciso que alguém me diga que eu estou certo. Pelo menos sobre o Já-já!”


Minhas observações:
-Já-Já, querido Veríssimo, só de côco;
-De outros sabores, se tanto, existia o Ton-Bon ( isso mesmo, com esse nomezinho que o tempo conseguiu expurgar e que o corretor ortográfico do Windows teima em corrigir para Ton-Bom);
-Caxambu, continua a existir. Perdeu um pouco do velho encanto, mas está lá;
-Aquele Rio, dos seus delírios, tenta resistir ao novo Rio dos pesadelos;
-Elvásio, não é um nome interessante, embora ser mineiro não seja desdouro algum. Pode manter o LF Veríssimo.

ATÉ HOJE, GOSTO MUITO DO JÁ-JÁ; DE CÔCO!

ps: Chica-Bon, Eski-Bon, Já-Já e Ton-Bon, o quarteto de sorvetes dos meus tempos idos.

Nenhum comentário: